Um palco escuro... uma cadeira com um homem deitado surge de repente, em cima de um estrado de metal... a voz de Al Berto embriagado dizendo "Vocês são mesmo ordinários, foda-se"... e a peça começa... é "A Noite" com Ana Lúcia Palminha e Pedro Gil que viajam pela poesia de Al Berto (1948-1997) na Sala Estúdio do Teatro D. Maria II.
Trata-se de uma peça feita de sentimentos viscerais, de dor, de alegria, de fúria, de paixão, de transmutação dos corpos (ele começa como homem e acaba como mulher e ela começa mulher para acabar homem), a musica intensa acompanha a poesia (David Bowie, Velvet Underground, Einsturzende Neubauten), os versos do poeta desenrolam-se pela lingua dos actores.
Não é poesia declamada, sendo antes dramaturgia da palavra... gestos, toques, caricias, sexo, lágrimas, violência... Ela tem um lado bom e outro mau numa dialética de masculino/feminino... Ele está em casa, enlouquecido pela solidão, deixa-se seduzir e troca de género... Ambos confundem-se e deixam de ser personagens para se tornarem o poeta Al Berto.
Confesso que a poesia de Al Berto confunde-me, fico sempre com uma ideia diferente cada vez que leio um poema seu. É como se em cada poema existisse um sentimento que muda consoante o momento em que se lê. Curiosamente já o equiparei a um Baudelaire tuga pela visceralidade dos sentimentos, contudo, em vez do Mal temos o Sexo (como mal, como danação, como incompletitude?) e a sua personalidade torturada pelos sentimentos maiores que a Vida.
A peça do Teatro O Bando, encenada por João Brites (amigo de Al Berto), não é para todos mas quem se arriscar a assistir pode sentir emoções fortes e deliciar-se com a magia das palavras de um poeta de culto (não apenas de culto gay)... um homem que nunca teve medo de chamar as coisas pelos nomes e fazer revoluções pelas palavras.
Vão ver e sintam, foda-se :)
Carpe Diem.
Etiquetas: Teatro
Voçês são uns ordinários. Foda-se!
Não voltarei cá.
Obrigada por esta merda de whiskey!
;)