Indie Lisboa 2009 - Dia 2
O inicio do segundo dia do Indie deu-se com o Programa Desperate Optimists (a dupla Christine Molloy/Joe Lawlor), composto por 8 curtas-metragens intituladas "Civic Life" e uma independente chamada "Joy" (que deu origem ao primeiro filme da dupla, em competição no Indie, de seu nome "Helen" e que já tinha sido exibida numa edição anterior).
O conjunto de curtas "Civic Life" correspondem a filmagens da dupla de criadores, junto de diversas comunidades da Irlanda. Esta dupla tem a particularidade de filmar em planos sequência elaborados, repletos de poesia em imagem. São filmes que versam temas como as dores de crescimento (Now We Grow Up), a gravidez na adolescência e suas consequências (Leisure Centre), as pacíficas pequenas comunidades onde nem tudo o que parece é (Daydream, Revolution e Who Killed Brown Owl), a morte (Twilight), a união entre pessoas de diferentes raças e credos por um objectivo comum (Town Hall) e a adaptação a uma nova realidade (Moore Street).
São filmes de uma imensa sensibilidade, onde a sua curta duração não é problema, e dos quais destaco "Twilight". A dupla consegue, em apenas 5 minutos, descrever a dor da iminência da morte com uma senhora idosa a revelar aos seus amigos, em pleno rio Tyne e enquadrada pelas suas pontes, que está a morrer de cancro sendo esta a primeira e única vez que falará da sua mortalidade, porquer quer acabar a vida a viver... simplesmente magnífico!!
Uma lição de cinema a não perder e que repete dias 28 Abril (18 horas) e 01 Maio (00:00), sempre no Cinema City Alvalade.


Em seguida dirigi-me, pela primeira vez, ao auditório do Museu do Oriente, tendo em vista assistir ao filme "Ashes of Time Redux" de Wong Kar Wai. Trata-se do director´s cut do filme que este realizou há 14 anos... uma história de artes marciais e espadachins, no âmbito dos filmes conhecidos como "wu xia pian".
Confesso que desconhecia esta faceta de Wong Kar Wai, contudo o filme incorpora todos os seus temas e trata-se, acima de tudo, de diversas histórias de amor com a beleza das imagens e dos planos que este realizador nos habituou.
A história destes espadachins acaba por ser uma reflexão sobre a memória, os amores passados, o que poderia ou não ter sido feito e a possibilidade de esquecer o passado graças a um vinho mágico. O que importa ao realizador não são as sequências de lutas mas, sobretudo, a metafísica do ser, a complexidade das relações humanas e a procura do amor (possivel ou impossivel) que sempre pautou o seu cinema, mesmo aquele realizado fora de portas (My Blueberry Nights).
Uma descoberta emocionante de um realizador surpreendente, que poderão ainda ver no dia 02 de Maio às 19 horas, no auditório do Museu do Oriente.
O dia terminou com o filme sensação dos festivais por onde tem passado, refiro-me a "Tony Manero", uma co-produção entre o Brasil e o Chile, pelo realizador chileno Pablo Larrain.
A história do filme situa-se no Chile, no final dos anos 70, em pleno regime policial de Pinochet quando o ditador prendia, torturava e raptava qualquer desertor, através do relato do singular Raúl que pretende ser o melhor Tony Manero (personagem interpretada por John Travolta no filme "Saturday Night Fever") do Chile.
Trata-se de uma metáfora para um país em busca da sua identidade, sem ter digerido totalmente o seu passado. O foco do filme numa personagem odiosa, capaz de tudo para obter os seus objectivos, um rato de esgoto que escapa incólume e não tem problemas em roubar a idosos ou a mortos apenas para conseguir ser aclamado num programa de televisão como a melhor imitação de uma personagem que apenas existe em filme.
Apesar de, aparentemente, parecer um filme leve não tem nada disso, acabando por deixar aquele murro no estômago tão típico do cinema indie mais hardcore. Torna-se impossivel simpatizar com o personagem principal e ter pena da sua decadência (fisica/impotência, psicológica, social), é um homem que vive na ilusão de ser diferente, contudo não passa de um refugo de humanidade.
O facto da competição não lhe correr conforme esperado, a idade não perdoou, leva-o a perder a única réstia de esperança de vida, sendo o final em aberto (estupendo) a demonstração da extrema violência deste homem, encurralado na sua mente doentia.
A analogia das atitudes de Raúl com o regime de Pinochet resulta na perfeição num filme seco e que merecia estreia comercial em Portugal... há uns anos o Grupo Medeia chamaria um figo a este filme que tem todas as condições para obter o sucesso do "Segredo de um Cuzcuz". Se puderem não percam as exibições dos dias 28 Abril (18:15) ou 01 Maio (00:15), sempre no Cinema City Alvalade.
Carpe Diem.

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