Bailarinas de Talento
Torna-se sempre curioso quando um filme demora cerca de 1 ano a estrear em Portugal (depois de ter passado no Indie Lisboa 2008) e, se o faz em cinema (normalmente são directos para DVD), pode acontecer ser exibido apenas em uma sala (Medeia King). Foi exactamente isso que aconteceu com o último filme de Abel Ferrara, chamado "Histórias de Cabaret" (Go Go Dolls, no original).
Ferrara apresenta aqui um filme de pequeno orçamento, leve (se for possivel encontrar leveza no cinema de Ferrara), sem argumento e laivos de burlesco, longe portanto da maravilhosa procura da espiritualidade do seu filme anterior.
O filme retrata um dia no clube "Ruby´s Paradise", detido e gerido por Ray Ruby (Willem Dafoe), que se encontra em profunda decadência resultante do seu próprio anacronismo (um bar da NYC dos anos 80) e do vicio de Ray na lotaria.
O problema é que não existe dinheiro para pagar às suas bailarinas (onde se inclui uma magnifica Asia Argento), o seu principal financiador e irmão quer sair (Matthew Modine), a senhoria (Sylvia Myles) visita todas as noites o clube exigindo o seu dinheiro, o chefe de sala (Bob Hoskins) tenta angariar clientes chineses para revitalizar o espaço e tudo o que poderia correr mal acontece... até que o contabilista de Ray (Roy Dotrice) decide apostar todo o dinheiro do cabaret num esquema de lotaria cujo prémio ascende a 18 milhões de USD, este sai mas... como se ganha a lotaria se não se encontra o bilhete?
O filme tem momentos hilariantes, um cast estupendo e onde se nota um elevado grau de improvisação. Impressionante como Ferrara usando, praticamente, apenas o set do clube, consegue imprimir a esta pequena história de "loosers" e sonhadores uma imensa força e sensibilidade. Não se trata apenas de meninas a fazerem strip, mas sim um clube que priveligia o talento e chega a promover um dia por semana de um show de talentos muito diferente das table dances habituais.
Não seria um filme de Ferrara se não existissem algumas das suas bizarrias, como no festival de talentos que transforma por completo o clube, o momento musical de Ruby onde este demonstra o amor que tem pelas suas bailarinas e o show de Asia Argento (só ela mesmo seria capaz disto).
Este não é um Ferrara vintage, contudo é um filme deveras interessante, divertido, com uma pujança muito própria e um final divertidíssimo. Para os fãs continua a ser incontornavel, para os outros experimentem outras obras-primas antes desta como o "Maria Madalena", "O Funeral", "Um Policia Sem Lei" ou "O Rei de Nova York".
Carpe Diem.

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