Primeiro ponto, um livro mexe comigo quando leio um excerto e me puxa, neste caso falo do mais recente romance de Claudia Galhós de seu nome "O Tempo das Cerejas" (430 páginas - Edição Oficina do Livro). O que me puxou, inicialmente, para adquirir este livro foi este momento:
"... Há labios que se guardam num beijo. Colados aos nossos. Tocamos-lhes cada vez que tocamos com os dedos na imagem do passado. Ele ainda ali está. Nos lábios dela. A beijá-la. (...) Há beijos que não se esquecem..."
O livro é um imenso fresco contemporâneo, com musica de fundo (desde Amália a Nirvana), de personagens no Portugal real e no Mundo que se encontram perdidas... procuram o Amor ou a felicidade, alguém que os segure na velocidade dos dias porque "há beijos que não se esquecem".
As personagens irão interligar-se e formar uma "familia" fora do comum com mais amor e compreensão que uma familia "normal", dita nuclear. A busca da felicidade pode estar numa musica, na negação da idade real face à interior, na fuga do mundo real para uma "second life", na rebeldia da juventude ou na incompreensão da violência... são casos reais desta Vida que nos subjuga, cada vez mais, para uma velocidade incomportável a uma "slow life".
Li com prazer e revi-me em certas personagens, na ideia de um Portugal contemporâneo parado no tempo e que tem medo de evoluir, onde as pessoas com idade avançada esperam a morte em vez de viverem a Vida até ao ultimo suspiro... onde os preconceitos da Vida e a ideia de normalidade leva uma pesso a refugiar-se no mundo virtual para ser feliz e realizar uma utopia... a ideia de uma pequena comunidade livre, mas cheia de ideias... o convivio mais intenso acontece no meio virtual face ao real pelas vicissitudes da Vida... uma personagem que se "diverte" a ver o Mundo da sua janela, mas tem pavor de participar nele... um beijo na infância que marca uma Vida e cria um sonho possivel... a capacidade de mudar completamente o rumo e ser feliz, sem medo das consequências.
Aconselho este livro que está escrito de uma forma intensa e sem medo, demonstrando a futilidade de uma Vida em que se corre do emprego para casa e vice-versa, quando temos sonhos que não procuramos alcançar ou que achamos impossiveis. Eu pergunto, o que é o impossivel? Porque não damos valor ao que importa? Porque viver uma "slow life" custa tanto?Porque temos de lutar contra as aparências quando o que somos deveria ser mais importante?
Deixo-vos com um ultimo excerto do livro:
"... Os outros são apenas outros a partir da tua perspectiva e porque os olhas a partir do "eu". Se te mudarem de posição, e te retirarem o eu da formulação gramatical, se passares a ser tu, olhada a partir de um "eu" que é alguém distinto de ti, passarás tu a ser o "outro". O outro está sempre na posição oposta ao teu olhar..."
Carpe Diem.
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