Neste blog ainda não tinha falado, explicitamente, de um dos meus vicios...o cinema. Sou daquelas pessoas que vai todas as semanas ao cinema e, na maior parte das vezes, não assisto aos filmes mais comerciais mas sim a filmes que me possam surpreender.
O cinema português não tem conseguido obter a adesão do público, excepção feita a filmes picantes ("O Crime do Padre Amaro" ou o muito provável futuro êxito "Corrupção") ou comédias ("Conversa da Treta"). O sucesso do filme "Alice" do Marco Martins surpreendeu-me pela positiva e muito gostaria que o filme que vos falo tivesse a mesma sorte... refiro-me ao mais recente filme de Luís Filipe Rocha de seu nome "A Outra Margem".
O tema é bastante forte porque lida com o "ser diferente", trata-se da história de Ricardo (Filipe Duarte), um homem amargurado com o suicídio do namorado e que tenta igualmente o suicídio. É um homem que vive do transformismo e oriundo de uma cidade do interior norte do País.
A sua vontade de viver é confrontada quando regressa à terra a convite da irmã Maria (Maria D´Aires) e conhece o sobrinho Vasco (Tomás Almeida) que sofre da sindrome de Down. O regresso à terra ainda vai abrir feridas com o pai José (Horácio Manuel) e a ex-namorada Luísa (Sara Graça) que foi abandonada no altar e lhe pede a vida de volta.
Todo o filme transmite uma imensa sensibilidade sem que com isso entre na lamechiche, sem medo de retratar dois seres à margem do que consideramos "normal" e representantes de duas franjas da sociedade como a deficiência fisica e a homossexualidade. Não se trata de um filme pesado porque, as cenas mais divertidas, são totalmente suportadas, por esse excelente actor da Crinabel de seu nome Tomás Almeida.
Devo salientar todo o restante elenco que demonstra por um olhar ou um gesto toda a força interior das personagens, contudo, seria injusto se não salientasse também o actor Filipe Duarte numa interpretação simples, feita de dor e sentimento e incorporando todo o estigma de um homem diferente e que perdeu o grande amor da sua vida.
Confesso que não fazia ideia de que uma pessoa com sindrome de Down poderia ser tão divertida, interessante e bonita... se conseguimos olhar para o interior dos outros que são "normais" como nós porquê nos basearmos em aparências para afastar os outros? O olhar que Luís Filipe Rocha lança sobre estes personagens é caloroso, demonstrando que existe sempre uma solução, por mais dificil que a vida possa ser.
Fiquei absolutamente maravilhado com este pequeno grande filme português e gostava que, quem me lê, pudesse ir vê-lo com os olhos bem abertos e livre de preconceitos... no fundo, somos todos iguais e procuramos todos os mesmos objectivos. O Vasco quer ser actor, casar e ser pai... por acaso não sonhamos todos com isso? Ter uma profissão, um amor e gerar uma vida não é impossivel, mesmo para quem é "diferente".
Como está descrito na nota de intenções do filme: "... A Homossexualidade e a Síndrome de Down são, ainda hoje, estigmas que exilam seres humanos para A Outra Margem da vida. A moral tradicional na mentalidade dominante é, ainda hoje, causa incontornável de exclusão e afastamento. Iluminar e exibir a humana normalidade dos "anormais" é confrontar os "normais" com a sua própria e intima "anormalidade". É propor uma ponte de compreensão entre as duas margens..."
Não podia dizer melhor... vejam, sintam e partilhem.
Carpe Diem.
Etiquetas: Cinema
Fiquei ainda com mais vontade ver o filme.
Bjos
Tita