Indie Lisboa 2009 - Dia 4
Quando passei uma vista de olhos ao programa do Indie Lisboa deste ano, desconfiei que o filme "JCVD" seria aquele que tanta sensação fez em Cannes junto da crítica e que pretendia (não sei se conseguiu) reabilitar a carreira de Jean-Claude Van Damme.
Sim, refiro-me ao moço dos Kickboxer, Street Fighter, Cyborg e afins... todas esses filmes dos anos 80, uns mais manhosos que outros, que fizeram a delícia da minha juventude. Quando saia um filme protagonizado por Van Damme (e Stallone, Arnold, entre outros) em cinema ou nas velhinhas cassetes VHS, era motivo de alegria para mim até ao momento em que começaram a parecer filmes de comédia do que acção.
O regresso das velhas glórias ao activo em filmes que as procuram reabilitar teve o seu ponto de partida no filme "O Último Grande Herói" (com a desconstrução da personna cinematográfica do Arnold sob a égide de John McTiernan) e de forma recente no honesto e emocionante "Rocky Balboa" e terminando no "The Wrestler" de Mickey Rourke. Este "JCVD" (realizado por Mabrouk El Mechri) é a tentativa de Van Damme regressar ao cinema, com um piscar de olho à desconstrução da sua personna e ao cinema indie, plenamente conseguido.
O inicio é enganador já que decorre numa cena de acção tal como as de Van Damme em "n" filmes da sua carreira, com a grande diferença a residir na sua idade que não lhe permite filmar tudo de um só take... está dado o mote para o resto da película. Ao regressar à sua Bélgica natal, Van Damme coloca-se numa situação caricata quando, ao entrar num posto de correios, é feito refém por 3 assaltantes peculiares (velhos demais para assaltos e um deles fã do actor e de artes marciais), confrontando-se assim o homem de ferro com a realidade muito distante dos filmes.
O filme é bastante divertido, recheado de ironia quer aos filmes que o actor protagonizou, quer ao uso das artes marciais nestes, procurando desconstruir o mito. Existem momentos deliciosos tais como quando Van Damme perde um papel num filme xunga para Steven Segal que, por ter cortado o carrapito, acabou por ser um concorrente temível ou a alusão ao facto de Van Damme ter sido o responsável pela ida de Jonh Woo para Hollywood, sem que dai surgisse melhorias para a sua carreira, antes pelo contrário.
E depois, há um momento que é "O" momento, um longo monólogo de Van Damme onde este escalpeliza os deslizes da sua vida (as infidelidades, as mulheres, o abuso de droga quando se tem o Mundo, os filmes de baixo orçamento para pagar as contas, a perda da custódia da filha) e pede uma chance, pede para não "morrer" (no filme e na vida real?) chegando, inclusivamente, a chorar. Um momento intenso de um actor, ainda que limitado, mas seguramente mais que um monte de músculos.
De uma forma geral, estamos em face de um filme divertido, tocante e sincero que sem ser uma obra-prima (nem o tencionava ser) acaba de uma forma um pouco atabalhoada. Num país ideal seria possivel a estreia comercial deste filme ou, no máximo, que passasse mais de uma vez no Indie, sem dúvida um dos melhores filmes da edição deste ano está aqui.
Carpe Diem.

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