A intensidade de um comic

Durante muitos anos considerou-se um feito impossivel adaptar a BD "Watchmen" (cerca de 400 páginas na sua versão completa), escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons. As razões para este estado de coisas têm origem no seu tamanho e diferentes graus de leitura, criando uma extrema complexidade quem, até à sua publicação, não se associava ao universo dos comics.
A BD foi, inicialmente, publicada num formato de 12 volumes pela editora DC Comics no ano de 1986, gerando um fenómeno de culto instântaneo para diversas gerações. Recorde-se que, nesse mesmo ano, Frank Miller lançou o seu "The Dark Knigh Returns" e o mesmo Alan Moore escreveu a melhor história de Batman (opinião do autor do blog) de sempre, "The Killing Joke" (com um final maravilhoso onde Batman e Joker se vêm como 2 metades da mesma moeda e ficam a rir à chuva).
Após as tentativas de realizadores como Terry Gilliam, Paul Greengrass e Darren Aranovsky, coube a Zack Snyder (300) adaptar em definitivo ao cinema esta obra prima da BD. O elevado hype gerado pela espera e o trailer que entretanto saiu, fez-me ter as maiores expectativas.

Depois de adaptações desastrosas a BD´s escritas por Alan Moore (From Hell e League of Extraordinary Gentlemen) e uma razoável (V for Vendetta) devo confessar que tinha receio de que este filme fosse pelo mesmo caminho mas... o melhor elogio que lhe posso fazer é conseguir superar as expectativas!!
Ainda que não apresente todas as variantes/histórias paralelas/personagens do comic (os 2 Bernie´s, o comic dentro do comic Tales of Black Freighter, o sumiço dos jornalistas provocado pelo Doctor Manhattan, o final, entre outros momentos) que se afiguraria impossivel para uma duração "normal" em cinema (mesmo assim são 163 minutos), consegue condensar a ideia e mística do original. Contudo, prevê-se que a edição em DVD tenha uma duração de 3 horas e meia com o Tales of Black Freighter incluído... já a espero com ansiedade :)
A história do filme retrata a investigação da morte de um super-heroi (Comediante) por outro (Rorschach), no ano de 1985, em plena Guerra Fria e num hipotético 3º mandato de Nixon (a personagem mais ridicula de todo o filme fruto de uma caracterização boçal). A ideia de guerra nuclear encontra-se ao rubro e seguimos a vida de alguns antigos super-herois deprimidos e/ou afastados do Mundo que os rodeia.
Os Watchmen são compostos pelo Comediante (Jeffrey Dean Morgan), Rorschach (Jack Earle Haley), Dr. Manhattan (Billy Crudup), Nite Owl II (Patrick Wilson), Silk Specter II (Malin Akerman) e Ozymandias (Matthew Goode). Cada um apresenta, à sua maneira, um crescente desagrado em relação à humanidade, através do cinismo (Comediante), loucura (Rorschach), impotência/indefinição (Nite Owl II e Silk Specter II), desumanidade (Dr. Manhattan), superioridade (Ozymandias).
Se procuram um filme de super-herois como "Homem Aranha", "Hulk" ou "X-Men" desenganem-se porque este não é um filme de aventuras mas sim um melodrama com pessoas comuns mascaradas e desiludidas com a Vida. É, acima de tudo, uma reflexão sobre o poder, a arrogância dos povos, o excesso de poder dado a certas potências, a superioridade moral de algumas personagens.
Em minha opinião, o grande personagem do filme é Rorschach na interpretação de Jack Earle Haley, num ser paranoico e doentio que priveligia o "olho por olho, dente por dente" sem ter em conta as diferentes gradações de cinzento que a Vida tem.
Um olhar refrescante sobre os super-herois com a adaptação fidedigna a uma BD, já de si, bem cinematográfica. Merece a pena ver e nem se sente o tempo a passar... mais tarde, leiam a BD e deslumbrem-se com o mundo criado por Alan Moore em toda a sua plenitude.
Carpe Diem.

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