Indie Lisboa 2009 - Dia 5
No dia da ante-estreia nacional do último filme de Manuel de Oliveira ("Singularidades de uma Rapariga Loira" em adaptação de Eça de Queiroz), em pleno Indie, preferi optar pelo Oriente com o filme "Breathless" ("Ddongpari" no original) do realizador coreano Yang Ik-june. Contudo e antes de falar do filme, quero deixar aqui o meu grande abraço ao mestre Oliveira pelo facto de, aos 100 anos, demonstrar ainda um imenso vigor artístico/físico e tenho pena de não estar na sessão para o poder aplaudir de pé (ainda que não seja apreciador do seu cinema).
O filme "Breathless" retrata a história de Sang-hoo (Yang Ik-june), um homem violento que trabalha para um gangster na realização de tarefas (cobrar dívidas, impedir protestos, fechar negócios...), aproveitando assim para libertar os seus fantasmas e temores, sem controlo aparente, chegando mesmo a agredir os seus próprios colegas de "trabalho". O tom do filme é-nos apresentado de forma brutal logo no seu inicio: primeiro um homem bate e agride verbalmente uma mulher, em seguida aparece um segundo homem que bate no primeiro e por fim na mulher, porque esta não se soube defender do primeiro... o segundo homem é Sang-hoo.
Podemos caracterizar a personagem principal como um homem que não olha a meios para libertar a sua violência através de chapadas, murros, pontapés, palavrões (cunt e cock são das palavras mais utilizadas no filme) ou cuspidelas em qualquer pessoa que veja na rua, desde que não goste da mesma... até que um dia encontra uma estudante, cuja vida doméstica é igualmente turbulenta, que lhe faz frente e o fará repensar todo o seu modo de vida.
Com o decorrer do filme, verificamos que Sang-hoo não é um sociopata mas sim alguém que viveu um trauma muito intenso no passado (a violência do pai sob a mãe traduziu-se em consequências terriveis para toda a familia). Apesar de ser muito difícil gostar da personagem, o seu realizador consegue, através de uma interpretação intensa, aproximá-la aos poucos dos espectadores e tornar verossímil a sua reconversão e mudança de estilo de vida.
Para primeira obra, apesar de alguns defeitos existentes, verifica-se um excelente trabalho de Yang Ik-june (actor, realizador, argumentista e produtor) com momentos intensos, como seja a bebida nas escadas à noite ou a desenfreada corrida para salvar um pai de pulsos cortados.
Não estou familiarizado com os costumes da Coreia, contudo, este filme fez-me compreender que deverá existir uma cultura de violência familiar (não percebi se em todo o lado ou se se trata de questão educacional/classe social) onde os maridos batem nas mulheres quase até à morte, permitindo que os filhos assistam à degradação da relação e assim incorporem no futuro este estigma. Como se encontra comprovado, um jovem que foi abusado tem maiores possibilidades de se tornar pedófilo, tal como um que sempre foi agredido possa tornar-se em agressor um dia... o ser humano nem sempre aprende com os erros e prefere replicar o que já aconteceu.
Um filme a demonstrar que, cada vez mais, o Oriente demonstra uma imaginação, humor e sensibilidade que se vai arredando do cinema europeu ou americano, um filme a não perder e que repete dia 30 Abril pelas 15:45 no cinema Londres.
Carpe Diem.

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