Encruzilhadas
A Feira do Livro para mim é um alegre suplício porque lá gasto umas massas mas venho apetrechado de muitos livros e quando o "Livro do Dia" é o livro de Tim Burton (já referido neste blog) e o ultimo de Ian McEwan, não há como resistir...
Desta feita trata-se de um pequeno conto (128 págs. na edição portuguesa da Gradiva) que retrata a noite de núpcias de um casal (Edward e Florence) no dealbar dos anos 60... com um ritmo intenso e seco, o autor oferece-nos mais uma pérola a juntar a obras superiores como "Amesterdão" (Booker Prize em 1998), "Expiação" (provavelmente a sua melhor obra até ao momento e, em breve, adaptada ao cinema) e "Sábado".
O pressuposto deste livro é idêntico ao de "Sábado", parte de uma situação simples de onde emergirá a violência e as escolhas sao feitas de forma precipitada.
Trata-se de um casal que desenvolveu um namoro casto e para o qual a noite de núpcias tem significados muito diferentes, para ele é a forma de se libertar e ter sexo com a mulher que ama depois de longo tempo sem lhe tocar e para ela é uma provação porque o sexo repugna-a (a justificação para isto é sempre subentendida mas explicada de forma poderosa pelo não dito) e essa noite torna-se o adiamento do facto consumado.
A acção desenrola-se num Hotel junto à praia do titulo, contudo não é isso o principal (nem a noite de nupcias o é) mas sim, como habitual em McEwan, o perfil psicológico das personagens e a intensidade que elas transportam para a Vida. Acima de tudo, tratam-se de opções e de escolhas que podem modificar para sempre o rumo de uma vida...
Que caminho tomar perante um cruzamento? Aceitar o que parece inominável ou ser paciente e esperar o tempo que for preciso? Acreditar que o Amor pode ultrapassar qualquer barreira ou antes pelo contrário pensar que apenas o momento interessa? Todas estas questões se colocam neste magnifico pequeno livro que percorre, em termos temporais, as décadas de 60/70/80 e 90 e está tão actual como se as personagens estivessem agora no presente.
Não me refiro ao aspecto do amor casto e puro no sentido de não haver sexo antes do casamento (apesar desta situação ainda existir), mas no facto de hoje em dia existir falta de paciência, pouca compreensão, inércia, discussões sem sentido ao primeiro precalço num relacionamento a 2... perdeu-se um pouco a ideia de ouvir e sentir o outro, de esperar, de dar tempo para que ambos se sintam bem...
Leiam este pequeno livro e pode ser que vos abra o interesse por descobrir a obra desse grande autor inglês que procura no quotidiano e nas pequenas coisas da Vida, a inspiração para os seus contos/romances.
Carpe Diem.

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