Uma pessoa dá-se conta que a época dos blockbusters passou, quando começam a aparecer filmes que mexem com quem vê e dão oportunidade aos actores de brilharem e mostrarem do que são capazes. Hoje tive o prazer de assistir a um dos melhores filmes de 2008 (até ao momento, claro), o "Antes que o Diabo saiba que Morreste", realizado por Sidney Lumet.
Trata-se de um drama familiar onde 2 irmãos, com problemas de dinheiro, resolvem assaltar uma joalharia, mas o pequeno detalhe é que esta pertence aos seus pais... como estes têm seguro tudo correria bem se... mais não digo, contudo, nada corre bem e assistimos, durante quase 2 horas, ao desmoronar de uma familia.
A familia é composta por um pai, Charles (o sempre excelente Albert Finney), e 3 filhos, sendo dado relevância aos 2 irmãos, Andy (Philip Seymour Hoffman, num registo de violência interior reprimida) e Hank (Ethan Hawke, como um cobarde necessitado e incapaz de procurar os seus sonhos), e à mulher do primeiro, Gina (Marisa Tomei), e amante do segundo. O caso de infidelidade entre irmãos é apenas a ponta do iceberg de um filme composto por flashbacks do que se passou antes do assalto e momentos pós assalto.
Ao contrário do que se poderia supôr, os flashbacks não servem para nos contar o que se passou, isso é logo despachado no inicio do filme, mas sim para aprofundar o carácter (ou a falta dele) de cada uma das 3 personagens principais (Charles, Andy e Hank). São homens em queda, pessoas perdidas que vivem de aparências (Andy), românticos sem capacidade de singrar na Vida (Hank) e incapazes de expressar sentimentos (Charles).
Em minha opinião, o filme tem 3 grandes momentos (entre muitos outros): o desabafo no jardim entre Charles e Andy, terminando de forma brutal; o momento subliminar onde Andy deixa cair, sobre uma mesa de apoio, as pedras que a enfeitavam, demonstrando que nem tudo pode parecer perfeito quando nada o é; e a sequência final onde o sacrificio/vingança de um pai é servido a frio.
Impressiona ver um realizador com 80 anos a fazer um filme desta intensidade, conseguindo puxar de cada actor performances intensas e plenamente conseguidas. Até Marisa Tomei tem aqui um papel contido, mas intenso, incluindo uma das cenas sexuais mais fortes do cinema comercial americano que abre o filme.
Quando o filme termina ficamos como se nos dessem um murro no estômago, porque não há finais felizes e muito menos para esta familia... mas, no fundo, a Vida não é assim? Um filme a não perder, esperando que consiga chegar aos Óscares, pelo menos, no que respeita aos seus actores.
Carpe Diem.
PS: Não podia deixar de referir aqui o mais recente cartaz do filme português "Aquele Querido Mês de Agosto" (ainda não vi, mas está nos meus planos para breve) com a seguinte frase: "10.000 pessoas já viram Aquele Querido Mês de Agosto. Mamma Miaaaaaa!!!!" Lindo :)
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