Solidão na multidão
Este foi o fim de semana para colocar o cinema em dia, não podendo deixar de fora o filme "The Wrestler", realizado por Darren Aronofsky ("Requiem for a Dream - A Vida não é um Sonho" e "O Último Capítulo - The Fountain") e que tem sido considerado o filme de regresso de Mickey Rourke (não totalmente verdadeiro porque esse foi "Sin City" onde interpretou o papel de Marv).
A história retrata a vida de uma antiga glória do wrestling americano dos anos 80, Randy "The Ram" Robinson, que não foi capaz de abandonar a competição e se dedica a combates de terceira (ou mesmo extremos) em liceus e associações pela América profunda. Trata-se, sobretudo, da história de um looser que só se sente completo dentro de um ringue e com a ovação dos espectadores a rodeá-lo. Interessante a forma como Aranofsky filma a entrada de Randy no espaço gourmet do hipermercado onde trabalha, em analogia com os momentos antes de um combate.
Para além dos combates marginais (momentos sublimes para quem aprecia o wrestling americano, onde se vê a camaradagem e a forma como se combinam as coreografias entre os oponentes), Randy perdeu o contacto com a filha (uma radiosa Evan Rachel Wood) e tenta a aproximação amorosa a uma stripper (Marisa Tomei num papel de grande intensidade e disponibilidade). Note-se que, apesar de ser um filme passado no ambiente do wrestling, não é esta a sua principal tónica mas antes a tentativa de redenção de um homem que bateu no fundo da vida.
Sem Mickey Rourke no principal papel, o filme teria uma intensidade bem diferente porque ele consegue tornar a história de Randy na sua, levando o filme em crescendo até um final redentor e o único possivel. Não é, de todo, um filme lamechas e o próprio realizador não permite que nos sintamos demasiado próximos de Randy apresentado os seus defeitos e imperfeições.
Não se trata apenas de um filme com Rourke, tendo de se levar em conta as interpretações de Evan Rachel Wood (intensa nos seus olhares e silêncios) e, sobretudo, Marisa Tomei (uma representação de mulher que tenta ser forte mas que se sente só e a idade não ajuda) num trio perfeito recheado de fraquezas e imperfeições.
Existem pequenos momentos deliciosos neste filme como o plano da feira de fãs onde a decadência e a antiguidade estão bem presentes, o reencontro entre pai e filha feito de pequenos nadas (e onde torcemos para que eles retomem o contacto mas...), o jogo de sedução da stripper com idade a mais e que se sente só, o último olhar de Randy para um espaço vazio e o leve sorriso representativo da perda da esperança.
Trata-se de um filme sobre uma vida perdida, o medo de viver, a solidão e o tentar recomeçar... posso dizer que foi um dos mais belos filmes que vi nos últimos tempos e, em cerca de 1 hora e 45 minutos, senti mais emoção do que em todo o filme "Quem Quer Ser Bilionário".
Justiça teria sido a vitória nos Óscares de Mickey Rourke (não acredito que tenha muitos mais papéis assim na sua carreira) e de Marisa Tomei (este sim o papel onde merecia a estatueta dourada), que têm 2 interpretações superlativas e intensas. Parafraseando Sean Penn no agradecimento do Óscar que recebeu: "Mickey Rourke is back and he is my brother".
Carpe Diem.

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3 Comments:


  • At 10:40 da tarde, Anonymous Anónimo

    Compras os próximos para irmos ao "Guardiões"???????

     
  • At 10:44 da tarde, Blogger Carpe Diem

    Oh Me Hate, lê lá o texto em baixo...eu já fui aos Guardiões (Watchmen) e adorei, mas podemos ir ao Gran Torino...

     
  • At 7:34 da tarde, Anonymous Anónimo

    Tu e os filmes que vais e não dizes nada!!!! XILA! Bem tá bem... vê se na sala ao lado está os Watch e bebemos o copo antes e depois... que tal ;)