Em seguida vi um filme que se encontra em competição no Indie Lisboa, trata-se de "Ballast", realizado pelo americano Lance Hammer. Posso dizer que, dos filmes em competição que tive oportunidade de ver nesta edição do Indie, foi o mais forte de todos... uma autêntica força da natureza e surpreende como uma primeira obra pode ser tão intensa (o filme acabou por ganhar o Prémio principal do Indie).
A intensidade do filme tem origem em duas situações, o facto dos seus actores serem amadores, potenciando assim a autenticidade do quadro social onde estes se inserem e a localização dos seus cenários (naturais) no delta do Mississipi, com toda a carga dramática e luta pela sobrevivência inerente.
O filme começa com uma morte, o suicidio de uma pessoa e a apatia de outra que vivia com a primeira, mais tarde entenderemos que se tratam de 2 irmãos gémeos que vivem lado a lado num mesmo terreno. Ao mesmo tempo acompanhamos James (o miudo da foto do poster acima) que, aos 12 anos, entra numa espiral de drogas e violência sem que a sua mãe, Marlee (uma mulher de classe baixa mas honrada que procura trabalhar para sustentar o filho), dê conta desse facto até que seja tarde demais... para que James escape ao seu destino, Marlee leva-o para a casa do seu ex-marido e pai deste que se havia suicidado.
A partir desse momento todo o filme gira na relação entre as 3 partes, mãe, filho e o tio (Lawrence) gémeo do pai num silêncio feito de pequenos gestos. Será neste silêncio que ficamos maravilhados com o poder desta história, onde descobrimos o passado das personagens, onde se vislumbra um futuro possivel e uma saida para a pobreza. Tratam-se de três pessoas perdidas do Mundo, sem destino, que acabam apoiando-se umas às outras numa nova familia. Um filme intenso e com o "happy end" mais entusiasmante dos ultimos tempos, ainda que fique tudo em aberto... mas, como sou um optimista, acredito que tenha sido um bom final. Será que alguém tem coragem de estrear isto em Portugal??
Tal como acontece com os filmes de Honoré, os de François Ozon também são essenciais para mim e lá fui assistir à sua mais recente bizarria de seu nome "Ricky". Trata-se de um filme sobre Katie (Alexandra Lamy), mãe solteira e empregada numa fábrica, que conhece Paco (Sérgi Lopez) e com ele estabelece uma nova relação. O fruto desta relação, traduzir-se-á num bébé de seu nome Ricky, contudo, este tem uma particularidade muito especial, começam a nascer-lhe asas nas costas...
O filme embarca no que já se convencionou chamar de "realismo mágico", com o uso da metáfora da criança com asas para demonstrar as dificuldades de um casal face a uma criança que vem tornar o relacionamento bem mais sério. Ao mesmo tempo o filme critica a imprensa francesa ao mostrar o seu excessivo interesse por "fait divers" após o vôo (a cena mais louca do filme) de Ricky pelos corredores de um supermercado.
Trata-se de um filme estranho e, em minha opinião, fraco comparativamente aos anteriores de Ozon. A ideia da criança com asas faz rir a espaços, emociona no seu final com a despedida (metáfora para a perda?) mas deixa sempre um travo de estranheza e decepciona para quem como eu se emocionou e divertiu com outros filmes seus ("8 Mulheres", "Swimming Pool", "O Tempo que Resta").
Por fim, neste longo dia, assisti ao filme "Medicine for Melancholy", um pequeno filme indie realizado por Barry Jenkins. A premissa deste filme é a consequência de uma "one night stand" entre um homem e uma mulher afro-americanos, em São Francisco, face ao dia seguinte. O seu inicio é estupendo, com o desconforto entre as partes e a partilha de um táxi numa troca de palavras de circunstância.
Etiquetas: Festivais de Cinema