Everyman
Confesso, antes de mais, que sempre tive curiosidade em ler uma obra de Philip Roth, tendo aproveitado o seu último livro que se reproduz aqui à esquerda para verificar se o "hype" não era exagerado.
A ideia de ler um livro sobre a morte e o envelhecimento do corpo pode parecer mórbida ou pouco interessante, contudo, desengane-se quem assim pensa, porque Roth escreve maravilhosamente bem, com uma pungência que nos atordoa e uma poesia que nos deixa enlevados e suspensos no éter.
Trata-se da história de um homem (o "Everyman" do título original e, porque não, qualquer Homem?) que se tornou naquilo que nunca quis ser. Ao longo dos seus últimos momentos de Vida recorda o passado, chegando à conclusão que tomou sempre, ou quase sempre, as opções erradas sem nunca conseguir explicar o porquê de as ter tomado ou de ter afastado quem o amava.
Não será a Vida isso mesmo? Um conjunto de opções que se tomam sem que saibamos onde nos leva, existindo mesmo aquelas que se tomam sem consciência, apenas porque apetece, por capricho?
É um livro curto (179 páginas - Edição Dom Quixote), escrito de uma forma seca mas irónica e certeira, tornando-se viciante no acompanhar dos ultimos passos deste "Everyman", rumo ao seu destino final. Um homem que se casou 3 vezes, tendo 2 filhos que o odeiam, um irmão que o ama e uma filha que o apoia incondicionalmente... contudo, a nossa personagem não é simples, não é totalmente bom (existe alguém totalmente bom?), tem imensas gradações de cinzento e alturas em que consegue ser terrivel.
O que mais custa neste livro é assistir à degradação do corpo, ao facto de se querer fazer algo e não poder porque já não se é novo... sentir que todos os amigos estão doentes ou a morrer e recordar um passado que se torna ainda mais doloroso, porque irrepetível. Encontramos ironia quando a personagem principal diz para a sua terceira esposa, antes de uma operação e na resposta à pergunta desta "o que será de mim?": "... Uma coisa de cada vez - disse-lhe - Primeiro deixa-me morrer. Depois eu volto para te dar ânimo..."
O personagem principal tem um lema de Vida bem realista, diz ele: "... Não podemos refazer a realidade. Temos de aceitá-la como ela vem. Aguentar firme e aceitá-la como ela vem..." Quantos de nós o fazemos? O mais dificil não é optar por um caminho, mas sim aceitar as consequências do mesmo.
A revolta da dor, a ideia de que a Vida é apenas uma passagem e que o destino final é a Morte, depois dela o que existe? Qual a finalidade de estarmos aqui? Porque complicamos a Vida quando ela é tão curta? Nada disto é respondido neste livro, contudo, é indispensável para quem ama a literatura e não tem medo de enfrentar esses Papões chamados Velhice e Morte.
"... Deixou de existir, liberto do ser, entrando no nada sem sequer saber. Como desde sempre tinha receado..."
Carpe Diem.

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2 Comments:


  • At 9:59 da tarde, Blogger Sem

    O livro, um dos melhores que li até hoje. A tua análise... muito bem feita! Boa!

     
  • At 7:11 da tarde, Anonymous Anónimo

    Comecei a ler... entretanto deixei, e comecei a ler Murakami, e como estou quase acabar vou voltar a ler... e acabar...