O Amor tem sabor de Mirtilhos?

Existem filmes mágicos que nos perduram na memória, seja por uma única imagem, uma música, um olhar, uma frase ou até um diálogo inteiro... depois há aqueles filmes que, apesar de não serem perfeitos, têm muita força e, mesmo dentro da imperfeição, encontra-se a beleza e esse é o caso do filme "My Blueberry Nights - O Sabor do Amor", realizado por Wong Kar Wai.
No fundo, tratam-se de 3 histórias que não se cruzam, mas são cruzadas por uma personagem, Elizabeth (Norah Jones), uma mulher que largou tudo para estar com um homem que a vem a trair, uma mulher que acredita nos outros e por isso sofre, uma mulher que encontra a redenção junto de uma tarte de mirtilhos e de um dono de café que apenas queria correr todas as maratonas do Mundo.
Quanto a mim, a história mais bem conseguida é aquela que atravessa todo o filme, o relacionamento entre Elizabeth e o dono de um café em Nova York, Jeremy (Jude Law), um homem que vive de recordações (suas e dos outros) e tremendamente sentimental que sente a vida a fugir-lhe, à frente dos olhos. Depois há a história de um casal, Sue Lynne (Rachel Weisz, magnifica) e Arnie (David Strathairn, intenso), que se amam de uma forma muito peculiar e uma jogadora de poker, Leslie (Natalie Portman), que se julga muito independente estando contudo irremediavelmente só.
É um mundo em perda, um conjunto de personagens desiludidas com a Vida, são pessoas sozinhas e abandonadas... abandonadas pelo amor, pela fé, pelo carinho, pelo excesso de amor... são pessoas que duvidam dos outros, já que é sempre mais fácil fugir do que entregar uma parte de nós... e, no meio de tudo, temos 2 personagens que ainda acreditam, que se entregam, que sonham e que esperam conseguir um dia atravessar a rua e ver o que a porta do outro lado lhes tem para oferecer.
O filme apenas não é perfeito porque perde um pouco o ritmo a meio (a transição entre as histórias) e Norah Jones, apesar de se sair bem, não é grande actriz. Os diálogos têm momentos sublimes (argumento do realizador) e a realização é bela como sempre nos filmes de Wong Kar Wai, sempre dedicada aos pequenos momentos como aquela mão naquela porta que apenas se entreabre... aliás é de Wong Kar Wai um dos titulos mais belos do cinema, o filme "In the Mood for Love".

Depois há a BSO do filme (imagem da direita) com musicas de ambiente Jazz (Cassandra Wilson, Ry Cooder, Otis Redding, Norah Jones...) e uma musica final a ilustrar, quanto a mim, a cena mais bela do filme... um segundo beijo, correspondido, sob um balcão com a doçura de uma tarte de mirtilhos.
A musica chama-se "The Greatest", cantada por Cat Power (Chan Marshall) que faz uma pequena, mas substancial, aparição no filme enquanto Katya, uma ex (ou a mulher por quem ele sempre esperou e por causa de quem nunca abandonou o seu café) de Jeremy. O reencontro deste casal tem um diálogo que me ficou na memória e que traduz uma grande verdade... uma chave que se guarda pode vir um dia a reabrir uma porta, mas isso não quer dizer que alguém esteja do outro lado.
Aconselho o filme a todos aqueles que acreditam e também a quem acha que isso do Amor são fábulas de crianças... é certo que não há pessoas inocentes ou totalmente boas como a Elizabeth do filme mas, certamente, há sempre uma porta que se pode abrir.
Carpe Diem.

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2 Comments:


  • At 7:49 da tarde, Blogger Sem

    Ai o Jude Law!!!

    (perto de um post destes, o meu comentário é básico, eu sei... mas é tão sentido!!! :))

     
  • At 6:10 da tarde, Blogger G

    Ganda post, sim senhor!...

    O filme deixa de dizer mta coisa, talvez propositadamente. Continuo a achar q existia potencial p mais...

    Qt ao Jude Law... Não existem planos maus dele... ;)
    bjs